- Você é alguém de uma bondade inacreditável, atencioso com todos, sempre disponível. Sendo o maior astro de rock do mundo, você parece anormalmente normal pra mim!
Eu estou constantemente lutando contra meu egoísmo. Artistas são pessoas fundamentalmente egoístas, e eu não sou exceção a essa regra. Em nossa profissão, você fica obcecado consigo mesmo, muito rápido. A celebridade é ridícula, mas eu reconheço que é uma boa moeda de troca. Eu fico feliz por usar a minha por boas razões. Digamos que, com o tempo, eu desenvolvi boas maneiras de controlar a raiva dentro de mim.
- Você é também o maior advogado da causa da África, e você poderia se contentar em dar dinheiro, assinar uma petição. Por que você se atirou nessa luta dessa forma?
Eu não suporto injustiça. Existe uma emergência no mundo. É completamente inaceitável que na Europa e na América nós tenhamos medicamentos que não custam quase nada, e há centenas de milhares de crianças e pais que morrem cada dia porque nós não compartilhamos esses remédios. Isso diz muito sobre a natureza humana. É obsceno... A história vai nos julgar duramente, assim como a nossos filhos, e Deus muito mais ainda. Nós estamos assistindo um novo holocausto e sequer nos movemos. Um continente está em chamas e estamos parados do lado da estrada, como idiotas, com um copo d'água em nossas mãos para apagar o fogo. Um congressista americano, que esteve preso em Auschwitz, me disse recentemente que, nos pesadelos que teve mais tarde, o que ele viu não foi o tempo que ele passou no campo de concentração, mas os rostos das pessoas que viam os judeus partirem sem dizer nada, sem sequer tentar descobrir para onde eles estavam sendo levados. Você e eu, nós sabemos para onde essas crianças estão indo. Para lugar algum. Elas vão morrer, apenas. Eu vou levar minhas filhas, Jordan (14) e Eve (12), para a África logo. Meus filhos, que têm 4 e 2 anos, são ainda muito pequenos. Mas eu quero moldá-los, delicadamente, para que estejam conscientes sobre o que acontece no mundo. Por enquanto, eu quero que minhas filhas vejam como e onde o Diabo tem feito seu melhor trabalho. Como meu amigo Bob Geldof diz, a AIDS é um problema médico, mas essa gente está morrendo por causa de um problema político.
- Você recorda o momento exato em que disse: eu tenho que fazer alguma coisa?
Em 1985 o U2 participou do Live Aid, que arrecadou 200 milhões de dólares para os famintos da Etiópia. Eu pensei que era algo extraordinário, até que me explicaram que o terceiro mundo gastava aquela quantia todos os meses, em pagamentos de dívidas para com os países ricos. Eu fiquei chocado. Depois do Live Aid, eu passei um mês com minha mulher, trabalhando em campos de refugiados na Etiópia.. Eu vi com meus próprios olhos pela primeira vez a devastação da fome e eu nunca superei isso.. Eu prometi a mim mesmo que um dia eu acharia um jeito de fazer alguma coisa. Eu não sou um hippie, ao contrário do que as pessoas pensam; eu venho das ruas. Quando eu ponho uma idéia na cabeça, eu não a deixo escapar até que eu resolva a coisa.. Como dizemos no rock´n´roll, “eu fecho o negócio”.
Sim! Eu duvido de mim mesmo o tempo todo! Mas eu nunca duvido do que eu quero fazer. Nós tínhamos 15 anos quando começamos nossa banda, lá do meio do nada, ao norte de Dublin. Quando eu dizia que “um dia nós seremos tão grandes quanto os Beatles ou o The Who”, todos riam da minha cara. Minha imaginação não tem limites. Quando eu tive a idéia de que nós não poderíamos começar o novo século sem conseguir o cancelamento da dívida do terceiro mundo, eu simplesmente não via o que supostamente havia de tão extraordinário nisso.
- Ou você é maluco, ou leviano, ou talvez os dois. Ao que lhe consta, nada é impossível?
Nada! Mas ao mesmo tempo eu sou um verdadeiro pragmático. Por sorte, eu vejo menos obstáculos do que a maioria das pessoas vêem. Isso deve vir da minha personalidade míope. Se eu pensasse sobre os problemas que eu terei que enfrentar no futuro, eu ficaria paralisado. É a minha inocência que me salva. Há um tempo atrás, em uma exposição, aconteceu por acaso de eu encontrar uma foto minha, de quando eu estava apenas começando. Eu fiquei impressionado com a expressão em meu rosto: eu estava aberto, totalmente confiante.
- O que você diria para aquele jovem agora?
Eu diria que ele estava certo. Eu recuso desconfiança. Há algo muito poderoso na inocência. Até certo ponto, como todo mundo, eu queria me livrar daquela inocência, então tentei todas as experiências possíveis. Levou um longo tempo pra que eu reconhecesse que, de fato, era lá que estava o meu poder.
- Desde líderes até economistas famosos, você fez amigos entre os as pessoas mais importantes do mundo. Já aconteceu de você estar cara a cara com um deles e pensar: “O que é que eu estou fazendo aqui? Eu não sirvo pra isso.”
Eu não visito essas pessoas em meu nome, eu represento apenas a voz daqueles sem voz nem vez. Eu vou pra cama toda a noite com relatórios do Banco Mundial. Acredite, eu conheço o assunto. Nenhum presidente, francês ou americano, jamais me intimidou. Ao contrário, eles é que deveriam ficar intimidados [ risos, depois fica sério ]. São as pessoas no poder que, um dia, vão ter que prestar contas. Eu posso ler nos olhos deles, alguns deles, da primeira vez que eles me vêem. “Quem é esse tipo esquisito, de onde ele vem?" Ser um animal exótico é uma vantagem; eles te deixam chegar perto - até que se arrependem. A coisa mais importante está em olhá-los nos olhos, diretamente.
- Você não fala apenas pela Irlanda ou África, mas em nome da humanidade. Nunca te passou pela cabeça que, para a maioria dos políticos, sua própria sobrevivência política é mais importante do que a sobrevivência da humanidade?
Com certeza, eu sei disso. O tempo todo. É por essa razão que os políticos mostram suas idéias com muito mais paixão em particular. Mas isso não me faz desistir.
- Todos sabem quem você é, mas bem lá no fundo, as pessoas sabem muito pouco sobre você. O que eles teriam que aprender sobre você que os surpreenderia?
Só as pessoas que conhecem bem minha música realmente sabem quem eu sou. Eu digo tudo em minhas canções. Eu sou bem conhecido, mas não sou uma celebridade e eu não tenho investido em me tornar uma celebridade, de jeito nenhum. Os paparazzi não se interessam por mim porque minha vida é completamente banal.
Esses são alguns trechos duma entrevista concedida por Bono Vox à Pari Match. Confira abaixo outros trechos de entrevistas concedidas ao fantástico.
0 comentários:
Postar um comentário
Agora você é VIP. A palavra está com você agora. Aproveite e faça seu comentário!
PS.: Se for xingar, ofender ou usar palavras de baixo calão, não perca o seu tempo pois CERTAMENTE excluiremos seu comentário!
Sinta-se a vontade.